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“Se é arte, estou dentro”

Ele é de Camacã (BA), foi modelo, é arquiteto, artista plástico, pintor, bailarino e ator de cinema. Antônio Carlos Moura é um dos muitos talentos baianos que com muito estudo e esforço vem marcando presença no cenário brasileiro. “A gente não vê uma grande valorização do trabalho do artista”, lamenta. Moura se prepara para a próxima exposição “Ave Avis Rara” e também para mais uma produção cinematográfica: ‘Um velho amigo do mar’, no qual dará vida a um velho pescador. Quer conhecer melhor esse artista? Então não perca mais tempo e leia a entrevista abaixo.

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Blog Carvalho News – Você foi modelo, é artista plástico, ator, bailarino e fotógrafo. Quando descobriu que possuía esses múltiplos talentos?

Antônio Carlos Moura – Como artista sempre fui autodidata. Desde criança  gostava de pintar, desenhar e procurei por conta própria adquirir livros que ensinavam técnicas de desenho e pintura. Sou uma pessoa muito curiosa em relação à arte. Costumo dizer que se é arte eu estou dentro.

BCN – Morar distante de grandes centros urbanos é empecilho à carreira artística?

Antônio Carlos Moura – Um pouco porque no interior a gente não sente uma grande valorização ao trabalho do artista até pelo fato da nossa região, passar por uma situação econômica complicada devido a crise. Há também a crise motivada pelo declínio do cacau, a maior riqueza econômica dos municípios do Sul baiano. Outro empecilho, às vezes,  é a falta de visão dos políticos que consideram sempre a arte algo supérfluo. Infelizmente, já tive a oportunidade de escutar um dirigente político falar que o importante é educação e saúde e arte é supérfluo. E não é bem assim, pois a arte direciona caminhos, cura, é o retrato da cultura de um povo, que é conhecido pelo o que ele realiza a nível cultural e isso podemos observar em países europeus e na América do Norte onde a cultura é extremamente valorizada.

BCN – Você é autodidata em pintura. De onde vem sua inspiração? E como é seu processo criativo?

Antônio Carlos Moura – Em pintura sou autodidata. Em artes, sou curioso e gosto de tentar várias técnicas, mas encontrei na colagem minha expressão artísticas por isso venho trabalhando com ela. A inspiração vem  de tudo. Seja a beleza, alguma mensagem que se gostaria de passar. Eu gosto sempre de realizar uma exposição com um tema, um conceito. No “Faces da Beleza Negra e Mestiça”, escolhi esse tema porque foi um dos primeiros trabalhos, que realizei em colagem, colagem arte como eu chamo. A beleza negra e a mestiça são uma beleza de traços raros e marcantes e a gente passa um momento, a nível mundial, onde evoluímos muito no sentido científico e tecnológico, mas nas relações humanas e sociais ou paramos de evoluir ou retrocedemos. Hoje em dia, vemos pessoas negras sendo humilhadas em redes sociais e estádios de futebol. Onde fica a evolução do ser humano? A gente sabe que a base de toda relação humana é o respeito. Se você quer ser respeitado, tem que respeitar o seu próximo.

 

Mais da carreira de Antônio Carlos Moura

BCN – Em 2015, você lançou a  exposição “Faces da Beleza Negra e Mestiça”. Como surgiu a ideia de apresentar suas peças de arte desta forma?

Antônio Carlos Moura – Vi alguns trabalhos de Derek Gores, Anderson Thieves e Vik Muniz e resolvi experimentar. Acabei descobrindo a minha maneira de trabalhar com a colagem, que é diferente das desses artistas. Acho que cada artista tem a sua forma de trabalhar e a minha colagem é diferente de todos os outros. Acredito que a colagem tem  um colorido vibrante, algo que nenhuma outra técnica oferece. Por isso que a escolhi para desenvolver minhas obras.

BCN – É possível viver exclusivamente da arte no Brasil?

Antônio Carlos Moura – Existem alguns poucos que conseguem viver, mas infelizmente aqui na nossa região ainda não é uma realidade. Eu, por exemplo, não conseguiria viver exclusivamente da arte aqui no momento, mas isso não me desanima. A gente sabe que é um caminho longo a ser percorrido. Quando você tem o talento reconhecido ai pode alcançar esse status e conseguir viver exclusivamente de arte.

BCN – Sabemos que você integra o elenco de uma produção cinematográfica. O que pode nos falar desse novo personagem?

Antônio Carlos Moura – Trabalhei como gestor de Cultura aqui em Camacã, de 2013 a 2015. Nesse período, participei de alguns fóruns de cultura pela região até Feira de Santana. Nesses eventos, em algumas mesas de trabalho você desenvolve alguns temas e depois tem que apresentar. Em um deles também participava o diretor J. Melo de Ubaitaba. Ele viu minha apresentação, gostou muito e de início me convidou para fazer uma ponta no filme. Depois ele sentiu um certo potencial em mim e me convidou para fazer o vilão do filme “Cobiçado coração de um homem“. J.Melo realiza um filme todo o ano, com tema e atores regionais. O que ele quer? Que as pessoas que assistem a produção se identifiquem com a estória, que reflitam sobre a realidade deles e se identifiquem com os personagens. Esse  ano ele me convidou para trabalhar na produção “Um velho amigo do mar” no qual irei interpretar um velho pescador, para isso estou deixando crescer a barba para ajudar a compor o personagem. É muito legal trabalhar com ele… Trabalhamos de forma voluntária. Ele consegue apoio das prefeituras onde se passa as filmagens e de alguns empresários. A gente aprende muito. Ele também consegue apoio de muitos jovens que trabalham no filme. É uma forma de exercitar o comprometimento, a disciplina, realizar alguma coisa. Isso é muito importante para a formação do jovem.

 

BCN – Já ganhou algum tipo de prêmio como ator?

Antônio Carlos Moura – Ganhei o prêmio de ator revelação com o filme “Cobiçado coração de um homem”. Esse ano estou me preparando para concorrer ao Prêmio de Melhor Ator.

BCN – Quais os projetos futuros?

Antônio Carlos Moura – Tem a minha próxima exposição, Ave Avis Rara, devo fazer o circuito Shopping Jequitibá, Fundação Itabunence de Cidadania e Cultura, Universidade UFSB a fazer o circuito  . Tenho um convite também para expor na Assembleia Legislativa de Salvador, e isso deve ocorrer mais para o final do ano e também vou atuar no filme do J. Melo, “Meu Amigo do Mar”. Eu tenho o meu instagran @antoniocarlosmoura e através dele uma pessoa da Ilha de Sardenha,Itália, gostou do meu trabalho e encomendou quatro telas em colagem, que vou encaminha até maio e isso pode abrir um caminho para o mercado europeu. Quem sabe.

BCN – Qual o conselho que daria para os iniciantes no mundo das artes?

Antônio Carlos Moura – Não desista e invista em você. Invista em conhecimento, técnica em aprimorar o que você faz para que faça cada vez melhor. Dessa maneira você será reconhecido e terá sucesso. É um mundo complicado com grande concorrência. A gente sabe que nem sempre os mais talentosos chegam ao reconhecimento. Arte é vida e  enquanto a  gente viver sente a necessidade de produzir arte e que as pessoas gostem e apreciem o nosso trabalho.