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A técnica de usar fibras naturais do cerrado ajudou a artesã de 87 anos a se estabilizar

Julia Vitoria

Corria pelas ruas de Pernambuco um boato de que Antônia Lopes, de 87 anos, tinha olhos nas mãos. Na época ela tinha somente 20 anos e enquanto conversava com os vizinhos ela transformava novelos de lã em roupas, gravatas e muito mais. Seu talento como artesã  correu o País e seu trabalho foi reconhecido ela tem prêmios por causa das desenvolturas com os artefatos, suas obras integraram a exposição de artefatos promovidas pela Secretaria de Turismo do Distrito Federal; a última delas, a Mostra Pioneiros, na Casa do Chá, que a consagrou mestre artesã. Ela faz parte da comunidade de artesãos que possui 10,5 mil registrados no Distrito Federal. 

Flores, pétalas de rosa, figuras de animais e humanas estão  espalhadas pela casinha azul da artesã, ela possui quase 79 anos de carreira a  matéria prima que ela usa  está no alcance das mãos que ainda são firmes apesar da idade. A habilidade aprimorada ao longo de sua história foi apreendida ainda quando era criança e observava a mãe transformar brutos em produtos novos e Antônia absorvia a técnica de tecer. 

Começando na fazenda ela fazia bichinhos e bonecas para os próprios irmãos e se precisasse de material era só ir até a Fazenda e pegar um sabugo de milho ou palha de coqueiro ou maracujá, o traçado que aprendeu ainda criança virava diversão. Foi a habilidade do artesanato, adquirida ainda criança, que ajudou a pernambucana a se consolidar em Brasília como um dos expoentes no trançado com as fibras naturais.

Mas a princípio a costura e o traçado não eram um fim, mas uma forma de conseguir algo a mais, no caso da casa onde ela poderia fazer seus trabalhos do jeito que ela quisesse sem que alguém reclamasse. Ela conta que isso só ocorreu quando se casou com José de Oliveira. Ela fala que quando o conheceu seu coração disparou, mas o chavão velho e feio, seu noivado não foi lindo e logo estava casada e em sua casa.

Depois do casamento foi morar na cidade de Correntes que fica em Pernambuco ganhando fama de boa bordadeira. Mas ali era difícil e o marido decidiu que se mudaram dali para procurar condições melhores. Quando estavam indo ela foi presenteada pelo marido com sua primeira máquina de costura, indagando pode colocaria aquela máquina ele prometeu que teriam  uma casa para morar e compram uma pensão em Alagoas 

Dividindo o tempo entre a pensão e o curso de costura, ela aprendeu a mexer naquele aparelho que estava na moda, o ano era 1954 e na época ela abordava mais saia longa e miçangas. Mas o pai de Antônia não estava satisfeito, e pediu para que o marido dela cuidasse do gado com ele em Pernambuco. Quando tinha 5 anos de casada ela teve seu primeiro filho. Nos vinte anos seguintes a família morou em 6 estados, Antônia o marido e os filhos viajaram de caminhão e viajaram com entre os gados, ao chegar no interior uma vizinha falou que em Brasília o trabalho dos artesãos eram valorizados e ela pegou seu filho e foi na frente.

Depois de deixar seja trabalhos na torre de TV ela começou a vender os artesanatos em feiras livres e também ensinava arte para as pessoas, foi ficando conhecida pela qualidade dos produtos, ela conta que um dia um aluno de 80 anos ficou com as mãos sangrando de tanto trançar e então ela achou lindo se perguntando  se também chegaria naquela idade.

O tempo provou para ela que iria bem longe, ganhando prêmios e reconhecimento. Ela fala que o médico disse que ela sentada pode trabalhar a vida inteira, fala que sua bengala é a secretaria e a leva para todo lugar.

Hoje ela mora sozinha e como todo brasileiro ela espera o fim da pandemia para poder voltar a vender seu artesanato.