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Beth Goulart lança livro sobre afeto e arte em família

Obra fala sobre relação da atriz com seus pais, Paulo Goulart e Nicette Bruno, que morreram em 2014 e 2020

Marcelo Carvalho

A atriz, Beth Goulart, filha dos queridos atores Nicette Bruno e Paulo Goulart, lançará seu primeiro livro: “Viver é Uma Arte: Transformando a Dor em Palavras” (Letramento), no próximo dia 28. “Duas gerações diferentes, que se uniram para contar a mesma história. Para mim, foi muito forte e transformador”, revelou Beth, que também é dramaturga e diretora, em entrevista ao Jornal O Estadão.

O livro Viver é Uma Arte, propõe nos levar a refletir sobre a finitude e ressignifica a vida, de forma comovente, carregando a humanidade de Beth Goulart, como bem aponta a escritora Nélida Piñon no prefácio. “Falamos um pouco sobre a nossa filosofia de vida, a morte, os processos cíclicos de aprendizado que é a própria vida”, explica a atriz.

O ator Paulo Goulart foi levado por um câncer, em março de 2014. Já, Nicette foi pelo Covid-19, em dezembro de 2020. De acordo com Beth, o ator costumava chamar a atenção dos filhos para o tripé família, fé e trabalho, que se tornou a base de sua vida.

A família é espírita e quando Nicette foi para a UTI em razão da covid-19, a atriz decidiu compartilhar a doença da mãe com o público nas redes sociais, dividindo as dores e esperanças. “Eu vi o momento tão doloroso que você aguentou com tanta esperança e fé cristã… Nunca vi o rosto da Nicette sem estar na luz, com luz, para a luz”, escreveu a atriz Fernanda Montenegro no posfácio do livro.

Paulo Goulart, Beth Goulart (c) e Nicette Bruno Foto: divulgação

Herança familiar

Mulheres fortes sempre marcaram a trajetória de Beth, como relata no livro. A atriz é descendente de bisavó e avó que cursaram medicina em uma época em que as mulheres eram desencorajadas a estudar e trabalhar. “Meu avô pediu para minha avó escolher entre ele e a faculdade e ela escolheu a faculdade”, conta ela rindo.

A avó ainda cantava em um cassino e Nicette começou a estudar piano cedo, querendo ser concertista. Na fase adulta, ela chegou a ter três companhias de teatro. Ao montar a peça Senhorita, Minha Mãe, em São Paulo, precisou de um ator. Foi quando conheceu Paulo.

Para a atriz, esse momento na infância se tornou emblemático ao retratar seu destino de seguir os passos dos pais, estreando nos tablados com a peça O Efeito dos Raios Gama Sobre as Margaridas do Campo, sob a direção do dramaturgo Antônio Abujamra, com quem Nicette e Paulo trabalharam durante muitos anos.

Foi justamente durante essa peça, como relata Beth, que ela aprendeu uma das lições que a mãe lhe deixou: sempre estimar seu público. Em uma das apresentações de Os Efeitos dos Raios Gama, havia nove espectadores, sendo apenas um pagante. Quando o produtor perguntou se Nicette gostaria de cancelar o espetáculo, ela respondeu que fariam o melhor. Esse único pagante era um empresário que comprou 100 espetáculos para seus funcionários, impulsionando o sucesso da montagem. “Aquilo foi uma lição de generosidade.”

Beth diz que seus pais lhe ensinaram a nunca se deslumbrar com o sucesso. “Desde a infância já tinha a referência de que éramos operários da arte, pessoas que vivem de seu ofício, dedicando o seu melhor. Enfrentamos todas as dificuldades do caminho, porque fazer arte no Brasil é uma pedreira.”, finaliza.