Skip links

Caminhada alerta para casos de intolerância religiosa

 

Divulgação
Divulgação

 

As marcas de uma pichação feita em 2014 ainda podem ser vistas na Pedra de Xangô, em Cajazeiras X. No entanto, elas servem para que diversos adeptos do candomblé lembrem dos atos que ocorrem contra as práticas religiosas deles.

Neste domingo, 14, cerca de 600 pessoas se reuniram numa manifestação pacífica contra ações como essa, consideradas exemplos de intolerância religiosa. Em sua sétima edição, a Caminhada da Pedra de Xangô reuniu integrantes de diversos terreiros de Salvador.

Eles percorreram quase dois quilômetros do campo da Pronaica até o monumento, considerado sagrado pelos religiosos de matriz africana e localizado na avenida Assis Valente. O ato é organizado pela Associação Pássaro das Águas. Presidente da entidade que reúne diversos terreiros de Cajazeiras, Mãe Iara de Oxum, fundadora da caminhada, afirmou que há sete anos luta pelo tombamento da pedra e da área no entorno.

“Sem folha não existe axé. Nós precisamos dessa mata aqui. Já pedimos a vários órgãos, mas nunca obtivemos resposta. O tombamento seria uma vitória para a gente. A nossa religião é de resistência. Contribuiria para a preservação da Mata Atlântica e da nossa religião”, disse Mãe Iara.

A construção da via que passa em frente à pedra e liga Cajazeiras X a Boca da Mata valorizou a região e a transformou em objeto de especulação imobiliária. O monumento religioso é também alvo de ações depredatórias. Em 10 de novembro de 2014, foram destruídas oferendas no local e encontrada uma grande quantidade de sal grosso, além das pichações.

Lei sancionada

O presidente da Fundação Gregório de Matos, Fernando Guerreiro, participou da caminhada e disse que, até o início do segundo semestre deste ano, o tombamento será feito. Em julho de 2014, ele já havia sinalizado que a Pedra seria o primeiro sítio tombado, após o prefeito ACM Neto ter sancionado uma lei de tombamento naquele ano.

“A gente já está em processo para o tombamento. Faltam apenas aspectos burocráticos. Há uma série de pré-requisitos como vários estudos sobre a região. A ideia é que saia este ano ainda”, afirmou Guerreiro.

Membro de uma comissão religiosa contra a intolerância e ogã do terreiro Jeje, no Engenho Velho da Federação, Edmilson Sales contou que já recebeu uma carta com muitas ofensas relacionadas a sua religião. “Os atos continuam acontecendo. Em alguns casos, com violência física. A caminhada serve para mostrar que estamos atentos às práticas de desrespeito”, afirmou.

De acordo com a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado (Sepromi), que apoia o evento, a pedra também é símbolo da luta dos escravizados pela libertação, pois ali se reuniam os negros no período colonial para organização do quilombo conhecido como Buraco do Tatu.