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Cantor sertanejo Leonardo passa a integrar a ‘lista suja do trabalho escravo’

Cinco trabalhadores e um adolescente foram resgatados em fazenda do cantor no interior de Goiás, em novembro do ano passado.

Marcelo Carvalho

Recentemente, o cantor sertanejo Leonardo (Emival Eterno da Costa) foi adicionado à lista suja do trabalho escravo, uma atualização divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Esse documento contém os nomes de pessoas e empresas que foram responsabilizadas por exploração de trabalho escravo, após investigações realizadas pelo governo federal. A inclusão do cantor ocorreu após uma fiscalização em novembro de 2023, em duas fazendas localizadas no interior de Goiás.

A Fiscalização e as Condições de Trabalho

Durante a operação, realizada nas fazendas Talismã e Lakanka, foram encontrados seis trabalhadores em condições extremamente degradantes, incluindo um adolescente de apenas 17 anos. Os trabalhadores dormiam em uma casa abandonada, sem acesso a água potável, banheiro ou colchões. O local era insalubre, com um espaço de descanso improvisado feito de tábuas de madeira e galões de agrotóxicos. A situação alarmante foi relatada em um documento acessado pela Repórter Brasil, que descreveu o ambiente como infestado de insetos e morcegos, com um forte odor desagradável.

A Defesa de Leonardo

Em resposta às acusações, o advogado de Leonardo, Paulo Vaz, afirmou que a fiscalização ocorreu em uma área arrendada e que a responsabilidade pela contratação dos trabalhadores era de um terceiro, o arrendatário. Segundo ele, todos os trabalhadores resgatados já haviam recebido as devidas indenizações e os processos relacionados ao caso estavam arquivados. Contudo, o relatório de fiscalização indicou que a responsabilidade pela limpeza e preparação do local ainda recaía sobre o cantor, o que levou à sua inclusão na lista.

Questões Legais e Implicações

Os fiscais que realizaram a operação alertaram que as atividades desenvolvidas no local poderiam ser classificadas como uma das Piores Formas de Trabalho Infantil, o que é estritamente proibido para menores de 18 anos. As tarefas de preparação do terreno para o cultivo de soja foram consideradas prejudiciais e extremamente danosas. Além dos seis trabalhadores resgatados, outros 12 estavam atuando sem registro formal, em uma situação de total informalidade.

A Realidade dos Trabalhadores

Os relatos dos trabalhadores resgatados revelam uma rotina desgastante. Um dos adolescentes afirmou que ele e seus primos chegaram à fazenda para trabalhar na “catação de raízes” e que estavam atuando sem descanso, trabalhando de domingo a domingo. Essa situação expõe a dura realidade enfrentada por muitos trabalhadores em condições análogas à escravidão no Brasil.

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O Contexto das Fazendas

A Fazenda Talismã, onde ocorreram as irregularidades, tem um valor estimado em R$ 60 milhões. A operação que resultou na resgatação dos trabalhadores foi realizada não apenas na Talismã, mas também na fazenda vizinha, Lakanka, que também pertence a Leonardo. A proximidade das propriedades e a interligação das operações levantam questões sobre a responsabilidade do cantor em relação às condições de trabalho em suas fazendas.

O Papel das Autoridades

Desde a criação dos grupos especiais de fiscalização móvel em 1995, mais de 63,5 mil trabalhadores foram resgatados de situações de trabalho escravo no Brasil. Esses grupos são compostos por profissionais de diversas instituições, incluindo a Inspeção do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho, a Polícia Federal e a Defensoria Pública da União. A atuação conjunta dessas entidades é fundamental para combater a exploração de trabalhadores e garantir que seus direitos sejam respeitados.