
Cineasta Marcelo Paes de Carvalho
Com muitos projetos e planos de morar no continente europeu, o cineasta carioca Marcelo Paes de Carvalho faz um balanço do atual cenário cultural brasileiro. Conheça um melhor esse empreendedor, bem como seus posicionamentos nesta rica entrevista.
Blog Carvalho News – Fale-nos do seu longa documentário “Incêndio no Circo – Das Trevas à Luz”.
Marcelo Paes de Carvalho – O filme, um longa documentário, conta a tragédia que ocorreu em 1951, com o incêndio do Gran Circus Norte Americano, em Niterói, onde morreram 317 pessoas e mais de 500 feridos. Mas o filme fala não só sobre a tragédia em si, mas sobre como várias pessoas se destacaram no processo de recuperação daqueles enfermos, como a população se engajou, etc.
CN – Como funciona o seu processo para escolha de elenco?
Marcelo – Meu processo, na maioria das vezes, tem várias etapas, primeiro buscando conhecer os trabalhos anteriores daquele ator/atriz. Se eu acho legal, chamo para um teste, para ver se o personagem encaixa com aquele artista, pois muitas vezes temos atores/atrizes muito bons mas que não encaixam no personagem, e isso é o mais importante, precisa passar verdade, precisa de identificação, precisa de sangue no olho. Outras vezes, embora raramente, um personagem já é escrito pensando um determinado ator ou atriz, nesse caso, o processo é basicamente um convite.

CN – O que provocou a estagnação do cinema nacional?
Marcelo – Eu acho que a estagnação já passou. Com a retomada, muita coisa legal vem acontecendo, e o cinema brasileiro vive uma efervescência criativa. Nosso problema é outro, gravíssimo: A falta de público interessado em assistir o filme brasileiro que não seja a comédia, os filmes que já tem bilheteria certa. E mais importante do que discutir problema, é debater solução, que nesse caso, passa pela formação de plateia, desde crianças, a formação na área audiovisual, para que mais pessoas produzam, etc.
CN – Como você avalia o atual momento do cinema em nosso país?
Marcelo – Eu acho o cinema brasileiro lindo. Mas para isso, para constatar minha afirmação, é preciso sair do óbvio, é ir atrás de títulos diferenciados, é buscar o cinema que está sendo feito e não está sendo assistido, é buscar os novos nomes, os curta-metragistas, a galera que está respirando audiovisual por amor à causa. Para essas pessoas é que precisamos de mais políticas públicas, e não para o cinema comercial que já inclusive, poderia sobreviver sem as leis de incentivo.
CN – O Brasil vive um período complicado tanto na economia, quanto na política. Como tudo isso vem afetando suas produções?
Marcelo – Nós somos afetados pelo mundo que nos cerca o tempo todo, então vemos com olhos bastante atentos o que está acontecendo no país, na política, nos bastidores, essa crise de representação e até mesmo de identidade pela qual estamos passando, é olhar um congresso e não se reconhecer ali, embora reconheça ali também uma parcela da sociedade, e isso tudo é muito inquietante, e acaba influenciando até mesmo na nossa criatividade. E antes que me esqueça #FORATEMER.
CN – Voce é o presidente do Instituto Incartaz de Cultura, Educação e Inclusão Social. Qual a proposta dessa entidade?
Marcelo – O Instituto InCartaz surgiu em 2008 para dar vazão as nossas propostas e projetos de capacitação, principalmente em audiovisual. São projetos sociais, cursos, workshops, etc., tudo buscando uma maior inclusão social e a capacitação profissional nas artes.
CN – Quais seus projetos a médio prazo?
Marcelo – Estou indo morar na Europa, olhar o Brasil um pouco de fora, então à partir de 2017, passarei sempre 6 meses lá, 6 aqui, já que não consigo imaginar viver sem minhas andanças por esse país que tanto amo. E a meta é, além de finalizar os projetos em andamento (filmes, séries, etc) é fortalecer cada vez mais o projeto FILMINBRASIL, que capacita pessoas para trabalhar na área audiovisual em todo o país, com vários parceiros, em vários estados.
CN – Qual a mensagem que gostaria de deixar para os leitores do blog?
Marcelo – O que eu quero para os leitores é que olhem a arte como algo não só belo, mas necessário. Nesse momento estranho que estamos vivendo, onde chegamos a ver pessoas afirmando que os artistas eram apenas vagabundos (sendo que eu trabalho em média 18h por dia), precisamos incentivar a produção cultural brasileira mais do que nunca. A arte é sempre algo visto como secundário, quando não é. A arte realmente salva vidas. Esqueça os livros, a teoria, o pensamento, achando que isso é algo apenas subjetivo, pois não é. Uso sempre um exemplo que vivi para isso: Um dia, eu estava entrevistando pessoas, usuários de um hospital psiquiátrico, e elas tinham através de um projeto lindo da ECOAR – Educando com Arte (outra entidade da qual faço parte da diretoria), acesso a oficinas de dança. Uma senhorazinha, quando entrevistada, me deu o seguinte depoimento: “Sabe, meu filho… Ontem à noite, eu estava pensando em me suicidar… Mas aí, lembrei que hoje tinha aula de dança… Então, deixei para amanhã.” Pensem nisso, com carinho.