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Desconhecimento e preconceito ainda giram em torno da Hanseníase

Murillo Torres

A Hanseníase é uma das enfermidades mais antigas no mundo. Para se ter uma ideia, no século 6 A.C., já havia relatos da doença. Acredita-se que ela tenha surgido no Oriente e, de lá, tenha atingido outras partes do mundo, sendo levada por tribos nômades ou navegadores.

Ao longo dos anos, a hanseníase tem sido um desafio para a saúde pública no Brasil. O país registra um alto número de casos da doença, sendo considerado um dos mais afetados pelo problema, juntamente com Índia e Indonésia.

Também conhecida como lepra, o mal é uma doença infecciosa e crônica causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Ela afeta principalmente a pele, os nervos periféricos, as mucosas das vias respiratórias e também pode comprometer órgãos internos em casos mais graves e negligenciados.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou mais de 25 mil novos casos de hanseníase em 2020. Esse número coloca o país em segundo lugar entre os países com maior incidência da hanseníase no mundo, atrás apenas da Índia.

A Hanseníase, também conhecida como Mal de Lázaro e, apesar de ser algo curável, ainda representa um desafio para a saúde pública no Brasil.

Vale ressaltar, que o Brasil possui um programa nacional de controle da hanseníase, que busca promover a detecção precoce de novos casos, garantir o tratamento adequado e realizar ações de prevenção, educação e reabilitação. No entanto, apesar desses esforços, ainda há uma alta incidência da doença, principalmente em áreas mais vulneráveis e de baixo desenvolvimento socioeconômicos.

Formas de detectar a doença

Consideradas como principal forma de identificar a hanseníase, as manchas sinalizam, em geral, a presença da forma paucibacilar da doença. Como elas apresentam, inicialmente, uma tonalidade mais clara em relação a cor da pele, podem ser facilmente confundidas com pitiríase versicolor (infecção fúngica conhecida popularmente como “pano branco”), entre outras doenças de pele. 

De acordo com a médica do Ambulatório Souza Araújo e pesquisadora do Laboratório de Hanseníase do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Anna Maria Sales, a hanseníase é uma doença de espectro clínico diversificado. Ou seja, pode apresentar muitos sinais e sintomas, e por isso, precisamos estar atentos a todos. “A mancha é apenas um deles, podendo aparecer em um tom mais claro que a pele ou avermelhada”, explica Anna. 

“Na hanseníase multibacilar, os pacientes podem apresentar dormência constante nas mãos ou nos pés, diminuição das sensibilidades térmica, dolorosa e tátil. Sensação de choque nos membros e nariz entupido também são indicativos e devem constar na anamnese do paciente”, completa a especialista.

Se o agravo for tratado logo nas primeiras manifestações clínicas, é possível reverter os acometimentos por ainda serem superficiais. No entanto, caso haja demora para iniciar o tratamento, o paciente pode desenvolver incapacidades físicas. “Uma das principais sequelas da hanseníase é a perda parcial ou total e irreversível da sensibilidade em mãos e pés. Isso é um perigo para a qualidade de vida do paciente. Imagina não ser capaz de sentir quando algo está quente a ponto de causar queimaduras? Ou não sentir dor quando pisar em um prego, podendo levar a feridas e infecções?”, aponta Anna.

Essas feridas e infecções acabam por atingir os ossos levando a destruição do tecido ósseo causando as conhecidas e temidas deformidades em mãos e pés. “Para conseguirmos enfrentar a hanseníase, a população precisa conhecer mais e melhor a doença e falar abertamente sobre ela, incluindo sinais e sintomas, formas de transmissão, tratamento e possíveis sequelas. Apesar de ser um agravo milenar, o conhecimento sobre ela é pouco difundido, o que contribui para a estigmatização dos pacientes”, declara.