Disc jockey: uma profissão que exige respeito
Entre uma balada e outra, uma categoria que luta para conquistar mais dignidade
Podemos afirmar que eles são a alma de qualquer balada. Sim, estamos falando dos DJs, que são responsáveis pelo repertório musical em boates, discotecas, festas, shows etc. Mas, como é o dia a dia desses profissionais? Como se tornar um DJ de sucesso? Saiba as respostas para essas e outras perguntas lendo a reportagem a seguir.
O termo DJ é a abreviação de disc jockey. Ele é o artista que seleciona e reproduz as mais diferentes composições, previamente gravadas ou produzidas na hora para um determinado público, trabalhando seu conteúdo e diversificando seu trabalho em frequências moduladas (FMs), pistas de danças de bailes, clubes, boates e danceterias.
O DJ Alexandre Figueiredo revela que desde a infância preferia ouvir música e fazer sets, ao invés de assistir a desenhos animados. “Nunca tive muito talento para dançar, mas adorava frequentar festas. Então, comecei a comandar o som animando e tendo a oportunidade de passar meus sets lists, para todos ouvirem e dançarem. Isto me deixava extremamente feliz e era prazeroso. Assim descobri a minha vocação para ser DJ e com o tempo passei a atuar profissionalmente”, lembra o profissional de São Paulo.
Com o DJ Marcos Taskila, também de São Paulo, o início não foi muito diferente. Seus pais sempre compravam vinis e promoviam festas em casa. Taskila acredita que isso tenha colaborado bastante para que se tornado um DJ. “Lembro-me quando ganhei de presente do meu pai um aparelho dois em um. Na época era uma sonata. Recebi também uns compactos do John Lennon, Nikka Costa, Michael Jackson e isso só fez aumentar o meu gosto por musica”, acredita ele, que logo decidiria se tornar um disque jóquei.
“Com nove anos, já tinha a minha boate”, diverte-se o DJ Cacharrel Werner. Como desde pequeno se sentia atraído por equipamentos eletrônicos, ele juntou um toca fitas e duas caixas de som e pronto, “jurava que era uma boate”, declara. Segundo ele, assim começou sua admiração por música, e em especial a eletrônica. “Acredito que nasci para ser DJ, pois ninguém vira algo, mas sim já nasce para ser”, afirma Werner, que é de Santa Catarina. Saiba Mais sobre a carreira de DJ
O DJ Dan Victor não esconde que buscou atuar no ramo musical de diversas formas. “Toquei teclado, tentei tocar violão, cheguei até a compor algumas canções, e ainda componho, mas não me encaixava como imaginava”, admite. O primeiro contato com o universo dos disque jóqueis foi aos 17 anos através de um amigo DJ. “Há três anos sou residente da Bubalooo Produções (produtora de eventos) e em agosto deste ano completo cinco anos de carreira”, comemora o baiano.
Mas, o que é necessário para se tornar um disque jóquei? Na opinião de Cacharrel, depende de qual tipo de DJ se almeja ser. Caso o objetivo for ser artista de um estilo só, por exemplo, é necessário ouvir e conhecer o que há de novo especificamente no estilo que adotou. Para ser especialista em casamentos é preciso ter uma boa bagagem, conhecer e ouvir de tudo (preferencialmente o melhor de cada estilo), ter um repertório aberto e, também, após cada contratação, buscar conhecer (estudar) o público alvo. “Porém, continuo afirmando: você nasce para ser DJ e isso ninguém ensina! O talento tem que estar dentro de você”, garante.
Como qualquer profissão, a de DJ também tem seus desafios. Segundo Dan Victor, o assédio é um deles. “Lidar com o público é a parte mais gostosa e também mais complicada do ‘ser DJ’. Algumas pessoas nos tratam como técnicos de som, que apenas estão ali para não deixar que a festa pare. Já outros tratam como um grande artista, idolatram, beijam, pedem foto, pelo simples fato da pessoa que está atrás da mesa de som ter tocado uma música que marcou a vida deles de alguma forma. Manter esse equilíbrio exige muito mais da gente do que se imagina”, garante.
Para o DJ Alexandre Figueiredo, o maior desafio é agradar a todos em uma festa. “Em celebrações particulares tais como festas de casamentos, aniversários, debutantes, temos que ter um repertório bem eclético por tratar-se de público que atravessa todas as faixas etárias, diferente de tocar em uma balada (ex. casas noturnas) onde o set list é determinado, voltado para um perfil de público, geralmente um só estilo, neste caso o desafio é consolidar minha identidade dentro perfil musical escolhido”, explica.
Já Cacharrel Werner defende que o desafio é mudar a imagem que muitos têm do disque jóquei. “Muitos julgam o DJ como um desocupado ou fanfarrão. Percebi que poucas pessoas acreditavam que se pode vencer na vida sendo um DJ. Meu desafio foi mostrar que se pode. Eu pude”, garante.
Para o presidente da Associação dos DJs do Paraná, Sandro Tanck, uma das dificuldades que o disque jóquei enfrenta é a transição de ser artista para ser trabalhador CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). “Agora o DJ tem que ter a carteira assinada”, alerta o líder da categoria. Tanck destaca que, atualmente, não há um nivelamento no que é pago para que esse artista faça sua apresentação. “Vemos DJs famosos ganhando 10 mil dólares e outros recebendo R$150,00 por duas horas de apresentação. Essa é a realidade de nosso país”, denuncia.
Considerada cidade modelo, Curitiba também é conhecida como a capital da música eletrônica. Segundo Tanck a ideia é que a associação se torne um sindicato. “Assim poderemos atender aos nossos DJs com mais austeridade”, acredita. Entre as conquistas da entidade, Tanck cita os projetos de lei que criaram e a Semana do Fomento da Música Eletrônica, a Semana do Skate, a Semana do Surf, e a Semana da Moda. “Todos esses eventos entraram no calendário oficial do Paraná”, declara.
Tramitando no Congresso já há algum tempo, o Projeto de Lei nº2081/15, propõe a regulamentação ofício de disque jóquei. De acordo com a proposta, para exercer a profissão será necessário um curso técnico aprovado pelo MEC com carga horário mínima de 800 horas. Ou, que o interessado esteja executando esse trabalho há pelo menos cinco anos. O documento também trata das relações trabalhistas. A lei já foi vetada pelo poder executivo e sua aprovação neste momento encontra-se pendente.
As condições de trabalho é outro assunto que preocupa os disque jóqueis. Segundo Alexandre Figueiredo, “Por ter uma agenda bem cotada, a maioria das vezes não é possível fazer uma visita técnica prévia ao local. Acabando sendo obrigados a nos adequarmos no momento em que acontecerá o evento”, afirma.
Dan Victor lamenta o fato de ocorrerem casos de produtores que não tratam o DJ profissional como ele realmente merece. “Não digo só por mim, quase todos os disque jóqueis que conheço já sofreram algum tipo de negligencia”, revela.