Educação: uma das formas de minimizar futuros casos de violência
Entre as ocorrências relatadas, a violência física ocupa a primeira colocação. Foram 38.451 registros, em 2015, ou seja, 50,15% do total. L.S.B., divorciada de 25 anos, conhece muito bem essa triste realidade. “Meu ex-marido sempre me batia, quando bebia, com isso fiquei doente, depressiva e tive síndrome do pânico. Então ele me disse que eu não prestava mais e me abandonou com minhas duas filhas”, conta ela, que viu sua mãe enfrentar situação semelhante no passado. “Meu pai também espancava a minha mãe”, lamenta.
P.R.S. também faz parte destes registros. Casada e com três filhos, esta baiana de 33 anos defende que os homens se sentem donos das mulheres, preferindo mata-las a perdê-las. “Me casei muito cedo com meu primeiro e único namorado. Sofro muito pois meu marido me agride as vezes, quando tem algum problema no trabalho. Ele me chama de burra e outros nomes horríveis… Sinto muita vergonha por essa situação, mas ao mesmo tempo tenho medo de ir embora e ele me matar ou prejudicar meus meninos. Por isso, não o denuncio”, revela.
As violências psicológica e moral também estão entre as citadas na pesquisa da SPM. Na primeira, houve o registro de 23.247 casos (30,33%). Já a segunda, foi citada 5.556 vezes (7,25%). Entre estes registros, quase metade (31.432 ou 49,82%) corresponde a denúncias de violência física e 58,55% foram relatos de violência contra mulheres negras.
O diretor presidente do Sindicato de Psicólogos do Estado do Rio de Janeiro (SINDPSI-RJ), Marinaldo Silva Santos, alerta que situações como agressões deixam marcas não somente no corpo das vítimas. “Elas podem desencadear sintomas patológicos tais como: insônia, pesadelos, falta de concentração e de apetite, síndrome de pânico, baixa autoestima, depressão, comportamento destrutivo e muito mais”, garante o sindicalista.
O Nordeste é uma das regiões brasileiras onde a cultura da submissão feminina é mais enraizada, gerando consequências desastrosas. Eduardo Kruger aposta na educação como ferramenta para mudar esse panorama. “É preciso que a nova geração cresça consciente de que homem e mulher possuem os mesmos direitos e deveres”, declara.
Marinaldo Santos destaca que essa transformação não ocorrerá por decreto, mas em longo prazo, com a adoção de políticas públicas e educação libertária. “Não me refiro a essa educação da escola sem partido que estão querendo nos sujeitar, mas uma onde se forme sujeitos, e que haja uma visão crítica da realidade e que sejam protagonistas”, explica. (Saiba mais: Lei Maria da Penha:um divisor de águas nos casos de violência contra mulher)
Karla Ramos defende que o combate à violência contra a mulher é cotidiano, independente da região brasileira e o local que esses atos estejam ocorrendo. “Nós da SPM-BA fazemos um trabalho diário. Estamos ampliando o combate e discutindo projetos importantes como o “Quem Ama, Abraça”, que está dialogando com as escolas. Temos também o projeto “Cravos e Rosas na Paz”. Pelas pautas que assumimos temos aproximação com os movimentos sociais de mulheres. Quanto maior for o número de grupos sociais que conseguimos atingir maior é o nosso combate. Os números e a realidade do Nordeste ampliam o nosso compromisso e a nossa responsabilidade no combate a violência contra as mulheres”, garante a gestora.