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Igreja Evangélica entra na mira da Operação Lava Jato

A Assembleia de Deus Ministério Madureira e seu presidente Samuel Cássio Ferreira entraram na mira da Lava Jato. O plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu nesta quinta-feira manter a decisão do ministro Teori Zavascki de março que determinou a remessa para o juiz Sérgio Moro de investigação envolvendo a suspeita de lavagem de dinheiro para o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por meio da Igreja e do pastor.

No julgamento, os ministros da Corte rejeitaram o argumento da defesa da igreja, que alegou que o caso deveria ser analisado pela Justiça Federal em São Paulo, onde fica a sede da Assembleia de Deus presidida por Samuel Ferreira.

Essa investigação é um desdobramento da denúncia criminal contra Eduardo Cunha por corrupção passiva e lavagem de dinheiro que o Supremo já aceitou no ano passado.

Na denúncia, a Procuradoria-Geral da República aponta que o peemedebista teria usado a igreja para operacionalizar o repasse de parte da propina de US$ 5 milhões recebida por ele referente à contratação de dois navios-sonda da Petrobras.

Na ação contra o peemedebista, Janot detalha as negociações de Cunha e Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção instalado na Petrobras, para receber o pagamento. O procurador afirma que o lobista Julio Camargo foi orientado por Cunha a fazer “doações” para a igreja.

DF - CUNHA/JORNALISTAS - POLÍTICA - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), concede entrevista aos jornalistas setoristas da Câmara fazendo um balanço do primeiro semestre do ano, em uma café da manhã oferecido no anexo IV na Câmara dos Deputados, em Brasília. 16/07/2015 - Foto: ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO
Eduardo Cunha – Foto: André Dusek

 

A Polícia Federal e a Procuradoria identificaram duas transferências em agosto de 2012 para a Assembleia de Deus via empresas de Júlio Camargo, a Piemonte e a Treviso, no valor de R$ 125 mil cada. O dinheiro teve como destino uma filial da igreja em Campinas, no interior de São Paulo. Os repasses tiveram como “falsa justificativa pagamento a fornecedores”.

Na acusação, o procurador afirma que “não há dúvidas de que referidas transferências foram feitas por indicação de Cunha para pagar parte do valor da propina referente às sondas”.

O criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende o pastor evangélico Samuel Cássio Ferreira, considera desnecessário a abertura de inquérito para investigar supostas relações da igreja evangélica com o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ).

“Bastaria ter mandado um ofício para que o pastor Samuel justificasse a doação. Evidentemente, ele não sabia a origem desse dinheiro. São feitas doações pelo Brasil todo”, declarou Kakay.

A assessoria do deputado afastado Eduardo Cunha disse desconhecer o caso e afirma, em nota, que o deputado não recebeu “qualquer vantagem indevida de quem quer que seja”.

Regalias de Cunha estão mantidas

A Mesa Diretora da Câmara decidiu que o deputado Eduardo Cunha, afastado da presidência da Casa por suspeita de corrupção, terá direito a salário integral de R$ 33.763,00, uso da residência oficial em Brasília, segurança pessoal, assistência médica, carro oficial reserva e transporte aéreo da Força Aérea Brasileira.

O peemedebista também terá R$ 92.053,20 para gastar com os funcionários. Só foi cortado de Cunha a verba adicional de R$ 35.759,20 para atividade parlamentar destinada ao pagamento, por exemplo, de aluguel de carros e passagens aéreas — e o auxílio-moradia de R$ 4.253,00 (recurso que ele já não utilizava por dispor da residência oficial).

Num primeiro momento, técnicos da Câmara do Deputados recomendaram que todos os benefícios oferecidos a quem está fora do exercício do mandato parlamentar fossem retirados.

No entanto, aliados de Cunha pressionaram para que as regalias fossem mantidas. Como o afastamento do peemedebista foi algo inédito e não havia regras preestabelecidas, foi negociado um critério de concessões que se assemelhasse ao oferecido à presidente Dilma, afastada não por acusação de corrupção, mas por pedaladas fiscais.