O cantor Jerry Adriani In Memoriam
No dia 23 de abril, do ano passado, o cantor Jerry Adriani (Jair Alves de Souza) nos deixava, pouco tempo depois de ser diagnosticado com câncer. Jerry é um dos ícones do Movimento da Jovem Guarda e com mais de meio século de carreira, colecionou inúmeros sucessos. Ele nasceu em São Paulo, mas morava no Rio de Janeiro. A entrevista a seguir foi gentilmente concedida por Jerry Adriani, ao Carvalho News, poucos dias antes do artista ter descoberto que possuía a doença. Essa é nossa singela homenagem ao nosso querido Jerry Adriani. Boa leitura!
CN – Fale-nos um pouco de sua amizade com o Rauzito.
Jerry Adriani – Raul Seixas foi um amigo muito querido para mim. Foi um daqueles episódios de estar no lugar certo na hora certa. Travamos uma amizade que durou uma vida inteira. Era o Rauzito meu amigo que morava na Bahia e tinha uma banda, que acabou casualmente me acompanhando, nasceu de minha parte o interesse que eles tocassem comigo e a partir daí foi só amizade. Gravei a primeira música do Raul, daí comecei a batalhar pelo Raul produtor. Foi uma luta muito grande na época, pois o Evandro Ribeiro, diretor da CBS não era de acordo. Ele que produzia e temia que as coisas não dessem certo. Finalmente ele acabou concordando e o Raul produziu três discos meus. Aí basicamente foi o início da carreira dele como produtor, depois ele começou a escrever várias músicas. A partir daí que viria a nascer o Raul Seixas.
CN – Como você definiria a Jovem Guarda?
Jerry Adriani – A jovem guarda foi uma época de transição não só musical mas também social. Houve o movimento Woodstock , shows contra a Guerra do Vietnã… Foi um período em que tudo estava em ebulição. A jovem guarda foi um momento de transição, uma consequência de varias coisas de fora.
CN – Qual a melhor lembrança que você tem dessa época?
Jerry Adriani – Era muito interessante começar a realizar os sonhos. A aparecer artisticamente… A jovem guarda foi uma realização de um sonho. É difícil de dimensionar. Não tínhamos nem noção do que significava aquilo.
CN – O Jerry Adriani é politizado?
Jerry Adriani – Não sou partidário, mas sou um fruto disso tudo. Como cidadão brasileiro possuo minhas convicções. Agora transformar isso numa bandeira profissional é outra coisa. Não sou um ativista político, mas não me negaria, por exemplo, a assinar um abaixo assinado contra a censura. Como não me neguei. Eu não participava daquilo ou disso, por não ser o meu círculo e tudo era circulo. Hoje não se pode ficar totalmente alheio ao que esta ocorrendo.
CN – Você também atuou como ator em produções como “Malhação”, “74.5 Uma esperança no Ar”, fez filmes para o cinema. Como foi essa experiência?
Jerry Adriani – Foi maravilhoso atuar. Foi mais uma vivencia importante na carreira. Nunca tive a pretensão de me tornar um ator, mas sim de dar conta do recado ao interpretar um personagem. Acho que de uma certa forma eu consegui. Em “Malhação” fui para ficar uma semana e permaneci três meses, em 74.5 fui elogiado pela minha atuação. A vida artística é um grande desafio, a gente tem que ir tocando conforme a musica, se adaptando.
CN – Como você avalia o cenário musical atual?
Jerry Adriani – O cenário musical mundial está muito mais contestador. A música negra americana, por exemplo, sempre achei que era uma das mais apuradas em termos de qualidade. Sempre fui fã de Quince Jones, dos artistas da gravadora Motown… Entretanto, hoje, houve um declínio musicalmente falando. Atualmente, a música de rua que retrata um momento social. Mas musicalmente falando há uma perda. A música é uma mensagem, um desagravo, um discurso com ritmo. No Brasil, por exemplo, os gêneros musicais tradicionais, como por exemplo, a música sertaneja de raiz sofreu uma plástica. As pessoas estão tentando adequá-la a uma realidade social. O que acontece é que as formulas vão sendo criadas, uma receita de sucesso. Foi mais ou menos o que ocorreu na época da Jovem Guarda. É mais ou menos uma fórmula matemática e isso acaba ficando meio repetitivo. Hoje tudo segue uma espécie de cartilha e isso aconteceu com todos os gêneros musicais. Do samba raiz veio o pagode e assim vai. Entenda eu não sou contra nada. Não faço campanha contra ninguém, absolutamente, pois respeito todos os estilos… Estou falando no estilo musical. Se você complicar muito uma melodia hoje, ela não vai fazer sucesso. Nesse ponto eu acho muito ruim. Deveria haver um pouco mais de cuidado. Num disco deveria ter ao menos duas musicas com qualidade musical. Na década de 70 quando havia o arranca rabo da Jovem Guarda com a Bossa Nova, mas havia um contra ponto. No Rio de Janeiro, por exemplo, uma rádio de nome MPB FM saiu do Ar. E foi um absurdo, não estou fazendo apologia a essa rádio que por um acaso, jamais tocou uma musica minha. Mas é uma emissora que fará falta para muita gente.
CN – Como anda a sua autobiografia?
Jerry Adriani – Já temos 300 páginas escritas, falando até o Jair se tornar Jerry… Estou começando a contar o Jerry. Nessa parte, vou fazer alguns comentários, algumas crônicas, algo similar ao livro “As crônicas de bob Dylan”. Vamos fazer um levantamento por décadas na vida do Jerry Adriani e transformar isso num grande dicionário. Com perguntas e respostas onde vou poder focalizar todos os assuntos e fazer algumas crônicas. Por exemplo, minha ligação com Raul Seixas, minha ligação com Renato Russo, minha saída da CBS. No final terá alguns contos depoimentos e pronto.
CN – Quais os seus passatempos?
Jerry Adriani – Amo a leitura, gosto de cinema, documentários, sou aficionado por ufologia, sou adepto da ginástica, herdei isso do Raul. A meu ver, o homem vai ter que se habituar a esses fenômenos.
CN – Sobre o seu novo cd, pode nos adiantar algo?
Jerry Adriani – Vai ser um trabalho em conjunto com o livro e vou gravar canções do Rauzito. Vou gravar as músicas de raiz do Raul Seixas. Vai ser muito interessante esse trabalho. Se Deus quiser isso vai sair ainda esse ano de 2017.
CN – Qual a mensagem que gostaria de deixar para seus fãs?
Jerry Adriani -Quero agradecer a galera que segue a minha carreira, que é muito fiel. Espero que estejamos agindo da forma que atenda a expectativa deles. E para o pessoal novo estou me apresentando agora e espero que a gente consiga criar uma relação.