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O que faz a mídia dar tanta atenção à Guerra Rússia x Ucrânia e muito pouco as demais?

Isabelle Carvalho

A guerra entre Rússia e Ucrânia já perdura por quase três meses e as tensões parecem longe de se encerrar. Vladimir Putin alegou que a invasão busca “desmilitarizar e desnazificar” a Ucrânia. No entanto, outros motivos podem ter induzido na decisão, como a possibilidade de adesão da Ucrânia à aliança militar da OTAN e o desejo de restabelecer a zona de influência da antiga União Soviética. 

Depois de muitos combates, bombardeios e mortes, o conflito entre os dois países permanece. Esta semana as preocupações mundiais pareceram aumentar. Suécia e Finlândia, ambos vizinhos da Rússia, pedem a adesão à OTAN. Não poderia existir pior momento para tal.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é um organismo que tem como objetivo principal garantir a segurança de seus países membros. Então, se um país membro for atacado, todos os outros integrantes fornecem auxílio. 

Um Guerra nada Fria

A OTAN foi criada no contexto da Guerra Fria, em que Estados Unidos e União Soviética entraram em conflitos ideológicos e políticos, com um dos objetivos iniciais sendo conter a expansão do socialismo. O pedido da Suécia e Finlândia só agravaria as tensões já acirradas. A Turquia, um dos países membros, barrou o pedido para acelerar o processo de adesão. 

A guerra entre Ucrânia e Rússia é bastante grave, à medida que envolve países do mundo inteiro. E começa a se instaurar o medo de uma Terceira Guerra Mundial. O que, na verdade, é muito improvável.

Incontáveis mortes e a destruição de cidades inteiras fazem voltar todas as atenções para estas hostilidades. Contudo, é relevante se questionar por que este embate em específico tem acumulado tanta dedicação, principalmente da mídia. A oposição Rússia X Ucrânia vem ocupando as principais notícias desde seu início.

Muitas guerras espalhadas pelo mundo

No entanto, outros 28 países apresentam conflitos ativos. Há a tensão entre israelenses e palestinos, a Guerra do Afeganistão, que completou 20 anos em 2021, com o Talibã recuperando o controle do país. Sem falar no confronto no Iêmen, que já matou mais de 230 mil pessoas. Já na Síria, já são onze anos de guerra e cerca de 90% da população está na pobreza. 

Com tantas tragédias ao redor do mundo, por que a mídia, em sua maioria, concentra seus esforços em apenas uma? Talvez seja pelo fato destas outras guerras já permanecerem há muito tempo, o que acaba normalizando a situação. As atualizações midiáticas acontecem quando há alguma novidade, mas informações constantes talvez não tragam audiência suficiente. 

Além disso, a Guerra entre Rússia e Ucrânia traz personagens quase intrigantes que mexem com o imaginário social. Até hoje, são inúmeros os conteúdos de literatura, arte e audiovisual – cinema e séries – que retratam os a bipolaridade mundial na época da Guerra Fria. É um tema até um pouco romantizado na construção imagética da sociedade. Tudo isso pode influenciar as pessoas a se interessarem mais por esta guerra do que por outras e isso acarreta uma reação da mídia. Mídia e espectadores alimentam-se mutuamente.

 

Esquecida pela grande mídia, conflito no Iêmen já dura oito anos. Foto: divulgação

Desviando a atenção dos próprios problemas

Uma questão mais pertinente ainda é: Por que a guerra entre Rússia e Ucrânia ganha mais atenção e solidariedade do que as tragédias ocorridas em nosso próprio país? São muitos os conflitos, não necessariamente guerras, acontecendo todos os dias, mas talvez nós olhemos com mais angústia para algo acontecendo do outro lado do mundo do que aqui. Talvez seja mais fácil se preocupar com um conflito ocorrendo a quilômetros de distância, porque não podemos fazer muito pelas pessoas envolvidas. Difícil seria incomodar-se com os nossos próprios dramas, porque estes sim talvez pudéssemos ajudar. 

Não é de hoje que se fala muito nos motivos que temos para assistir a tragédias nos jornais televisivos ou ler sobre na internet. A causa primeira é para nos informar. Mas também, observar outras realidades perigosas e violentas do sofá seguro da nossa casa traz um alento, um conforto e um alívio porque não estamos naquela situação. Enquanto olhamos de fora da nossa vida comum, através de uma tela, para essas tragédias, é complicado adotar uma postura ativa diante de desastres. 

Isabelle Carvalho é carioca, tem 27 anos, sendo graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Também é graduada em Cinema. Além de possuir especialização em Jornalismo Cultural, é apaixonada por cultura, cinema, ciência e atualidades.

O Instagram da Isabelle é o @isacond.e