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Política de Imigração nos EUA: Remoções e Retornos ao Longo das últimas Décadas

Murillo Torres

Nos últimos 16 anos, os Estados Unidos promoveram a remoção de aproximadamente cinco milhões de imigrantes, abrangendo os mandatos de Barack Obama (Democrata), Donald Trump (Republicano) e Joe Biden (Democrata). Desde 1996, o termo “deportação” deixou de ser utilizado oficialmente, sendo substituído por “repatriação”, que se divide em duas categorias: remoção e retorno.

A remoção ocorre quando o imigrante é expulso do país por ordem oficial, podendo enfrentar penalidades, como a proibição de retorno por anos. O retorno acontece quando a entrada é negada na fronteira ou o imigrante deixa voluntariamente o território antes da emissão de uma ordem de remoção, sem sofrer penalizações.

Obama: O Presidente que Mais Removeu Imigrantes

Durante seus oito anos na presidência, Barack Obama registrou o maior número de remoções, totalizando três milhões de imigrantes. Em 2013, ele bateu o recorde anual com 432 mil remoções. Essa política levou ativistas de direitos humanos a apelidá-lo de “Deporter-in-Chief” (Deportador-Chefe).

Apesar do discurso humanista, o governo Obama justificou as remoções alegando que atingiam apenas imigrantes sem documentos e com histórico criminal. No entanto, especialistas questionam essa justificativa, dada a magnitude das remoções.

Para amenizar os impactos dessa política, em 2012, Obama criou o Deferred Action for Childhood Arrivals (DACA), concedendo proteção temporária contra a remoção a jovens imigrantes ilegais que chegaram ao país na infância.

Trump: Tolerância Zero e Medidas Controversas

Eleito com um discurso duro contra a imigração ilegal, Donald Trump prometeu construir um muro na fronteira com o México e adotar uma política de tolerância zero. Entre 2017 e 2020, houve 1,2 milhão de remoções. Embora não tenha superado os números de Obama, Trump impôs medidas drásticas, como a separação de famílias e a detenção de crianças em centros de imigração.

Trump também tentou extinguir o DACA, mas a medida foi barrada pela Suprema Corte. Durante a pandemia de COVID-19, implementou o Título 42, um código sanitário que permitia a expulsão imediata de imigrantes sem possibilitar pedidos de asilo, sob a justificativa de conter o vírus. Outra política polêmica foi o Remain in Mexico, que obrigava solicitantes de asilo a aguardarem suas audiências em cidades mexicanas, gerando uma crise humanitária na região fronteiriça.

Biden: Continuidade e Reformas

Com a volta dos democratas ao poder em 2021, Biden adotou um tom menos radical, mas manteve as remoções acima de 100 mil por ano. Entre 2021 e 2024, o total chegou a 700 mil. Além disso, o presidente manteve o Título 42 até maio de 2023, bloqueando 2,8 milhões de imigrantes na fronteira.

Apesar disso, Biden trouxe mudanças significativas, como a revogação do Remain in Mexico, o reforço ao DACA e a tentativa de reforma da política migratória, barrada no Congresso por opositores trumpistas.

Antes de Obama: A Imigração nos Governos Bush e Clinton

A rigidez na política migratória americana não começou com Obama. George W. Bush (2001-2008) removeu cerca de dois milhões de imigrantes, influenciado pelos atentados de 11 de setembro, que levaram à militarização da fronteira. Antes dele, Bill Clinton (1993-2000) registrou 870 mil remoções.

Os retornos de imigrantes também são expressivos: entre Obama, Trump e Biden, foram 4,1 milhões, sem contar os três milhões de expulsões sob o Título 42. Já nos governos Bush e Clinton, os retornos chegaram a 19,7 milhões.

A Retórica Anti-Imigrante

A diferença entre Trump e outros presidentes recentes é sua narrativa agressiva. Segundo a professora Carla Beni, da FGV, Trump utiliza o discurso anti-imigratório para ganhos midiáticos, tratando o governo como um reality show.

Rubens Duarte, coordenador do LabMundo, destaca que Trump intensificou a retórica xenofóbica, associando imigrantes a criminosos e espalhando desinformação. Ele chegou a alegar que países da América Latina enviavam “presidiários” e “pacientes psiquiátricos” aos EUA, criando um clima de medo e perseguição.

Obama foi o que mais removeu

A política migratória dos EUA tem sido marcada por altos índices de remoções, independentemente do partido no poder. Obama foi o presidente que mais removeu imigrantes, enquanto Trump endureceu a legislação e radicalizou o discurso. Biden manteve a política de remoções, mas tentou promover reformas, enfrentando resistência política. O debate sobre imigração continua sendo um dos mais polarizados nos Estados Unidos e deve ser central nas próximas eleições presidenciais.