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Saída da Ford do país

Especialistas discutem se a saída está relacionada ao ambiente econômico brasileiro ou a estratégia da própria montadora

André Lucas

A tanto tempo no Brasil, a Ford impressionou a todos ao anunciar a saída do Brasil. O fechamento das três fábricas da montadora pegou o mercado financeiro de surpresa, que não esperava uma decisão tão repentina. 

Apesar da queda das vendas  e consequentemente a queda dos empregos, que  são elementos de efeito direto da pandemia do corona vírus, especialistas apontam um começo de uma desindustrialização. 

O presidente da Ford na América do Sul, Lyle Watters, explicou que mesmo após reduzir todos os custos possíveis para equilibrar a balança, até mesmo parar de fabricar os caminhões tão tradicionais da marca, mesmo assim as condições econômicas não favorecem a atividade industrial. Segundo ele, seria necessário reduzir “muito mais” para transformar a operação sustentável e rentável. 

O economista Mauro Rochlin em entrevista ao jornal UOL explicou que é muito difícil saber ao certo o que motivou a decisão da empresa,  mas ele acredita ter muito mais relação com a estratégia global da multinacional, do que com o cenário atual brasileiro. 

“Causa estranheza, porque o Brasil ainda é um mercado consumidor muito importante. A perspectiva para 2021 é de venda de cerca de 2,5 milhões de veículos. Não é pouco. Não consigo enxergar, em termos macroeconômicos, o que poderia levar a empresa a se decidir pela saída.” 

O professor de economia, Emerson Marçal, da FGV explicou que não vê a saída da fábrica como um sinal da desindustrialização do país, apesar de perceber uma desconfiança do mercado internacional em relação ao mercado brasileiro. 

“É difícil falar em desindustrialização por causa da decisão de uma empresa, por mais importante que ela seja. Mas é uma decisão simbólica, importante. É uma empresa que está aqui há muito tempo”. Se realmente, e deve ser o caso, eles estão fechando porque essas fábricas [da Ford] não são as mais competitivas, as [montadoras] que ficaram aqui devem ter unidades mais competitivas, então elas vão ocupar esse espaço. O mercado não deixou de existir”, afirmou o professor. 

Emerson Marçal diz que o livre mercado pode ser um problema para a montadora, que perdeu a força de competitividade. Desde a criação do Mercosul a indústria automotiva ficou de fora das regras de livre comércio do bloco econômico. Porém, a partir de 2029 o Brasil e Argentina começaram a comercializar livremente peças e automóveis,  por causa do acordo feito em 2019 entre os dois países sul americanos. 

O professor de economia acredita que isso pode ser o motivo para a empresa fechar suas fábricas no Brasil e manter outras no Uruguai e na Argentina. 

Já Antônio Corrêa de Lacerda, diretor da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contábeis e Atuariais) da PUC-SP e presidente do Conselho Federal de Economia, A saída da empresa estar ligada diretamente ao ambiente frágil e quebrado da economia brasileira.  

“O Brasil vive há anos um processo agudo de desindustrialização, desnacionalização de empresas e desmobilização de cadeias industriais. Estamos “reprimarizando” nossa economia, cada vez mais dependente de commodities” 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, aproveitou para criticar o governo de Jair Bolsonaro, em relação às pautas econômicas e soluções frustradas para combater a crise no país.  Ainda falou sobre a decisão de juntar pastas para a formação do ministério da economia. 

“Houve perda de interlocução com o setor privado e desempoeiramento de temas de extrema relevância, como política industrial, por exemplo”.