
Seagri estimula pesquisas e plantio de umbu em Vitória da Conquista (BA)
Murillo Torres
A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri) vem realizando estudos e parcerias. O objetivo é incentivar o desenvolvimento de plantios de umbu pelo estado, em especial no ecossistema da caatinga. Agora, efetivou a doação de microaspersores e sacolinhas para mudas e plantios, na região de Vitória da Conquista. O material foi entregue à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural do município, cuja prefeitura mantém a Fazenda Experimental Pedra Mole, área de dez hectares com plantio de 33 variedades do umbu, 25 delas do chamado Umbu Gigante, que vem dando novo fôlego à comercialização do tradicional fruto do semiárido brasileiro.
Umbuzeiro
Em abril último, foi lançado no auditório da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) o livro Umbuzeiro – Uma alternativa para o semiárido, organizado pelo engenheiro agrônomo e professor universitário Orlando Silvio Caires Neves.
O livro foi viabilizado através do selo editorial da própria Uesb e traz artigos a respeito do cultivo do umbu, assinados por pesquisadores de trabalhos reconhecidos sobre a cultura. São autores da Bahia, do Rio Grande do Sul e de Pernambuco. O professor Orlando Neves, além de ser o responsável pela organização do trabalho, também participa de textos da obra e assina alguns dos conteúdos.
Umbu Gigante
Atualmente, uma variedade do umbu vem ganhando mercados. É o chamado Umbu Gigante, cuja unidade chega a pesar 200 gramas, contra 0,40 gramas, em média, do umbu comum. O fruto maior vem agradando os consumidores e tem aberto novas frentes de divulgação do produto e, consequentemente, outros mercados.
Do ponto de vista de sua viabilidade na caatinga, o umbuzeiro é uma solução que possuí qualidades que podem transformá-lo em um dos principais vetores para o agigantamento da fruticultura nas áreas de caatinga. Resistente à seca, um único umbuzeiro produz cerca de 20 kg frutos em seis anos, podendo chegar a até 250 kg em 15 anos. Considerando-se a produção inicial, de 20 kg por planta, chega-se a cerca de 30 mil kg de umbu por hectare/ano.
A caatinga e o umbuzeiro
A caatinga ocupa uma área de cerca de 862.818 km², o equivalente a 10,1% do território nacional (IBGE, 2019). Engloba os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais, onde vivem cerca de 27 milhões de pessoas, sendo a maioria carente e dependente dos recursos do bioma para sobreviver. Na caatinga a média anual de chuvas é de menos de 800 mm/ano.
Nessas condições, o desenvolvimento de plantas resistentes à seca, como é o caso do umbuzeiro, mostra-se como opção viável para a viabilização de áreas de fruticultura. O umbuzeiro desenvolve-se como uma árvore centenária, sem necessidade de grandes cuidados de manejo e possibilidade de produção por décadas seguidas.
Soma-se a isso uma aceitação crescente do mercado para o umbu e uma intenção de que o fruto ultrapasse fronteiras e ganhe o gosto internacional. Nesse sentido, todo o setor vem experimentando grande desenvolvimento, com utilização do umbu em doces de corte e cremosos, comportas, polpas e preparados líquidos, além de licores e até cerveja.
Altamente hidratante, rico em vitaminas e antioxidantes, o umbu também vem ganhando mercados nos campos dos cosméticos e farmacêuticos. No primeiro, já são bem conhecidos shampoos, condicionadores e cremes faciais diversos feitos a partir do umbu. Já no que tange à saúde, o umbu e o umbuzeiro (pois as chamadas “batatas” de suas raízes também são utilizadas para remédios caseiros) possuem capacidades variadas já comprovadas e há um número considerável de estudos em andamento que certamente irão aumentar ainda mais essa lista de qualificações.
Estratégico
O plantio de umbuzeiros em áreas de caatinga é estratégico. A conservação do bioma está intimamente associada ao combate da desertificação, que é um processo de degradação ambiental das áreas áridas, semiáridas e sub-úmidas secas.
No Brasil, 62% das áreas susceptíveis à desertificação estão em zonas originalmente ocupadas por caatinga. Daí a grande importância do umbuzeiro, árvore de porte que traz sombreamento e influencia beneficamente no microclima da área e na conservação do solo. Soma-se a tudo a sua qualidade como planta frutífera capaz de gerar emprego e renda para populações do semiárido.
A importância da atenção do Governo da Bahia à cultura do umbu vem gerando frutos. Há cooperativas desenvolvidas e produtivas em várias regiões do estado. Alguns destaques são a Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura Familiar do Sudoeste da Bahia (Cooproaf), que atua na região de Vitória da Conquista, e a Cooperativa de Produtores de Umbu (Coopercuc), localizada no município de Uauá.
Para se ter uma dimensão da importância da produção do umbu para as famílias do semiárido, somente a Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura Familiar do Sudoeste da Bahia possui 212 famílias associadas, com cerca de 540 pessoas atendidas diretamente e outras cerca de 540 de maneira indireta. Os associados vêm colhendo cerca de 1 (uma) tonelada de umbu por ano.