OMS anunciou que o produto não tem eficácia nenhuma contra a covid, e pode aumentar a letalidade
André Lucas
O governo de Jair Bolsonaro já gastou mais de 90 milhões de reais em compra com medicamentos ineficazes contra a covid-19, como por exemplo cloroquina, azitromicina e o Tamiflu
Enquanto isso, o Butantã, que já entregou as primeiras doses das vacinas aplicadas no Brasil, ainda não foi pago pelo governo federal .
Desde o início da pandemia, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ministro da saúde, Eduardo Pazuello, defendem o chamado tratamento precoce contra o corona vírus, com o uso dos medicamentos citados acima para combater o vírus nos primeiros estágios da doença.
Os medicamentos no entanto se mostraram ineficazes em diversos lugares do mundo, estudos rigorosos feitos na Europa e Estados Unidos comprovaram que esses remédios não fazem efeito nenhum contra o vírus e ainda podem ser letal.
Os gastos da União com cloroquina, hidroxicloroquina, Tamiflu, ivermectina, azitromicina e nitazoxanida somam pelo menos R$89.597.985,50, segundo levantou a reportagem da BBC News Brasil por meio de fontes públicas.
A cloroquina
Após testes iniciais a OMS interrompeu a pesquisa com o produto na segunda metade de 2020, após o remédio se mostrar ineficaz.
Mesmo assim, o laboratório químico farmacêutico brasileiro comprou mais de uma tonelada de ingredientes farmacêuticos ativos para a produção de cloroquina.
O Ministério da Saúde lançou um protocolo para atendimento da covid-19 que recomendava o uso da cloroquina associada à azitromicina, aos primeiros sintomas da doença. Além dos medicamentos, o governo federal também investiu em vacinas contra o SARS-CoV-2.
O tratecov
o Ministério da Saúde lançou nesta semana um aplicativo que visa incentivar o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19.
Chamado de “TrateCOV”, o aplicativo ajuda a diagnosticar a doença, após o médico cadastrar sintomas do paciente e comorbidades, como diabetes.
Em seguida, a plataforma sugere a prescrição de medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina, o conhecido kit-covid.
No aplicativo, são incluídas também informações sobre lugares frequentados pelo paciente ou contato com pessoas que tenham testado positivo para covid-19.
Ao final, é apresentada uma pontuação de gravidade. Se for seis pontos ou mais, é dado o diagnóstico da doença. Em seguida, surge a opção de receber ou não tratamento precoce. Caso a resposta seja afirmativa, aparecem os nomes dos medicamentos, junto com as doses e quantidade de dias a serem administrados.
o desenvolvedor Joselito Júnior analisou o código-fonte da página e descobriu que a cloroquina e remédios semelhantes sempre serão recomendados quando houver a opção de tratamento precoce, ou seja, quando o escore de gravidade for maior ou igual a 6.
Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), com base nos estudos científicos mais recentes e consistentes, não existe tratamento precoce para a covid-19.
Além do App e da influência do próprio presidente, a cloroquina ainda é distribuída através do chamado “ kit covid”.
Um levantamento com dez municípios com mais de 100 mil habitantes que distribuíram um kit com medicamentos para o chamado “tratamento precoce”, no ano passado, revela que nove deles registram uma taxa de mortalidade por covid-19 mais alta do que a média estadual. O que ressalta o resultado da pesquisa feita pela OMS, “A cloroquina não tem eficácia contra o Covid 19, e aumenta a chances de letalidade”.