“No Tempo da Intolerância” como descrevia seu caderno de anotações
Philipe Campos
Mesmo após sua partida, a eterna cantora de uma voz rouca e marcante, Elza Soares ainda tem um legado nesta vida. “No tempo da Intolerância” é um álbum inédito que a própria Elza descrevia como ela enxergava o mundo em composições gravadas e guardadas em um de seus cadernos de anotações.
Páginas com ideias soltas, citações, pensamentos que acompanharam Elza por anos de sua vida e carreira se tornam 10 músicas de um álbum inédito, até uma música inédita com Rita Lee, “recriado” pelo uso da inteligência artificial.
Através dessa tecnologia moderna e fantástica é possível enxergar Elza passeando em diferentes épocas, e um disco com encontro de gêneros que ela explorou em seus mais profundos 70 anos de carreira e foi por essa versatilidade toda que só ela tinha como “rainha do samba” recusou este título em toda sua carreira.
O novo disco, que só tem mulheres na criação, nasce de um arquivo que chegou para ficar e fazer parte do futuro, como Elza mesmo dizia que não tinha idade; tinha tempo.
Trajetória marcante e sofrida de uma grande mulher
Elza Soares nasceu na comunidade conhecida como Vila Vintém no Rio de Janeiro, cantava e já encantava enquanto carregava lata d’agua na cabeça para lavar roupas. Teve que casar-se com um amigo do seu pai, assim ele achava que protegeria a honra da filha e viu quatro dos oito filhos morrerem ao longo da vida.
Começou justamente a carreira para comprar remédios para os filhos. Elza sofreu racismo e violência doméstica pelo marido.
“Ela se fechava, tinha o choro dele e do nada ela virava e dizia ‘vão bora’, porque a vida continua, e eu tenho que continuar lutando” afirmou Vanessa Soares, produtora e neta da cantora.
Com toda maestria que só Elza tinha, ela transformou as agressões da sociedade em samba, em jazz, bossa nova, e música eletrônica.
Elza cantava de um jeito único e particular, ensinando enquanto fazia perguntas como dizia na música composta por Pitty para Elza “quem você pensa que é pra dizer a alguém que pode parir, onde ele deve ou não deve ir”.
A única certeza de que com inteligência artificial ou não, Elza viverá para sempre. Seu legado não tem idade e nem tempo, durará para sempre e a carne negra é não é e não será mais vendida no mercado como dizia em uma de suas maiores composições.
Elza Vive!
Fontes: TV Globo / Fantástico
