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O avanço do neonazismo no Brasil

Foi na década de 80 quando os primeiros movimentos nazistas ganharam visibilidade nacional e com base em ideias de segregação étnica e racial, o neonazismo só reforçou um dos grandes males da sociedade brasileira: o racismo.

Andie Carolina

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Entre os anos de 1933 e 1945, um movimento político-ideológico tomou conta da Alemanha. Tendo como sua principal figura um homem chamado Adolf Hitler, o Nazismo foi construído principalmente com base em suas ideias fascistas, racistas e nacionalistas, além de sua implacável perseguição aos judeus (prática como conhecida como antissemitismo, que causou a morte de mais de 6 milhões de judeus)  no holocausto. Para Hitler, apenas o povo considerado como parte da raça ariana merecia destaque na sociedade, por supostamente ser “pura” e consequentemente, superior ás outras.

Embora em muitas partes do mundo o neonazismo seja considerado crime, os grupos neo-nazis não param de crescer em outros países da Europa, Estados Unidos e inclusive, o Brasil. O avanço da tecnologia e a expansão das redes sociais, tem, inclusive, facilitado o acesso às informações relacionadas a essa ideologia.  

Mas por aqui, o nazismo começou a se fazer presente muito antes da internet tomar conta do país. Foi na década de 80 quando os primeiros movimentos nazistas ganharam visibilidade nacional e com base em ideias de segregação étnica e racial, o neonazismo só reforçou um dos grandes males da sociedade brasileira: o racismo. Entretanto, não apenas de racismo se constrói o neonazismo. Outros grupos considerados minoritários como a comunidade LGBTQIAP+, as mulheres, os estrangeiros, os índios, os nordestinos, os comunistas, entre outros, também são alvos nas terras tupiniquins.

No Brasil, os neonazistas são, em sua maioria, jovens homens jovens, brancos e que possuem formação de ensino superior. Eles podem ser mais facilmente encontrados no Rio Grande Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal, em grupos conhecidos como “Carecas” (ou Skinheads) e “Neuland,” que infelizmente, não param de crescer em números e agressividade.

 Para se ter uma ideia, segundo estudos realizados por Adriana Dias, Antropóloga pela Unicamp, aconteceu um salto assustador no número de grupos neonazistas espalhados pelo país. Em 2015, eram ao menos 72 deles. E em 2022, esse número chegou a 1.117, como parte de comunidades presentes no Facebook, Instagram, Twitter e Telegram, onde os usuários não sentem nenhum pudor e espalham de forma bastante confortável o seu discurso antissemita, racista e xenofóbico.

Para exemplificar a ameaça que o neonazismo tem representado para a sociedade brasileira atual, é possível citar o ataque a uma escola em Aracruz, no Espírito Santo, no dia 25 de novembro de 2022. O atirador responsável pelo atentado, um adolescente de 16 anos, usava uma suástica presa na própria roupa no momento do massacre. O crime vitimou fatalmente quatro pessoas e deixou mais doze gravemente feridas. Além deste, cabe mencionar como exemplo do Neonazismo o incêndio na sede do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), também ocorrido em novembro do ano passado.

Porém, para entender um pouco dessa “paixão” pelo nazismo por parte de uma generosa parcela do povo brasileiro, é necessário voltar um pouco lá atrás. Na Era Getúlio Vargas, por exemplo, existia no Brasil uma filial do partido nazista com aproximadamente três mil membros. Além disso, o governo de Vargas, entre os anos de 1937 e 1945, tinha uma relação bastante amistosa com a Alemanha. Outra figura importante neste movimento, foi o deputado Plínio Salgado, que na década de 1930 foi o responsável por criar o integralismo, que tinha como slogan “Deus, Pátria e Família”, que pode ser facilmente associado às “filosofias” defendidas pelo último governo à frente do país.

E agora, de fato, avançando no tempo, o claro aumento dos grupos neonazistas no país começou a se intensificar a partir de 2019 e diga-se de passagem, as falas do então novo presidente Jair Bolsonaro e do avanço da direita política contribuíram e muito para isso, pois os neo-nazis se encostam na bandeira do nacionalismo (intensamente defendida por Bolsonaro) para atuar. E talvez, você, caro leitor, não saiba, mas o bordão utilizado por Hitler em suas campanhas nazistas era simplesmente “Deutscland uber alles”, ou “Alemanha acima de tudo”, em português, bastante semelhante a famigerada frase “Brasil acima de tudo”, incansavelmente repetida pelo agora ex-presidente.

            Não podemos esquecer que as posturas neonazistas de Bolsonaro não pararam por aí. O “Mito” recebeu no Palácio do Planalto a deputada alemã Beatrix von Storch, que é nada mais, nada menos do que a neta do Ministro das Finanças de Hitler e Líder do Partido de Extrema Direita, o “querido” Lutz Graf Schwerin von Storch. E cabe mencionar que ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim, foi afastado do cargo justamente por gravar um vídeo replicando as palavras de Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda Nazista. Mas não pense você que a filosofia nazista de Jair Bolsonaro nasceu junto com sua candidatura ou eleição à presidência. Os estudos realizados na Unicamp pela Antropóloga Adriana Dias, mencionada no início deste artigo, encontraram cartas assinadas pelo ex-capitão em sites nazistas, quando este ocupava o cargo de Deputado.

            Infelizmente, as posturas neonazistas na sociedade atual em outras partes do mundo também repercutiram positivamente nos brasileiros que fizeram desta ideologia uma escolha de vid. Figuras como Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, e Viktor Orban, primeiro-ministro da Cultura na Hungria, deram ainda mais força ao discurso de extrema direita. Esse discurso, cabe mencionar, se espalha por grupos fundamentados nos conceitos do integralismo (citado anteriormente) e fascismo, como por exemplo, a Frente Integralista Brasileira e o Movimento Integralista e Linearista Brasileiro

            Apesar do Brasil parecer um país “Terra de Ninguém”, existe uma punição para os crimes de caráter nazistas, tendo como base as leis de crimes raciais. E embora seja apontado que é crime com pena de detenção de até cinco anos para quem comercializar, distribuir e veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propagandas com o fim de divulgar o nazismo,  como quase sempre acontece no país, não existe muita clareza em relação a essa legislação.

            É verdade que atualmente existem três projetos de lei no Senado que visam o aumento para oito os anos de detenção a quem disseminar essa prática através de saudações nazistas ou apresentar falas e comportamentos que justifiquem ou aprovam o holocausto. Porém, é nítido que para endurecer essas leis, ainda há muito o que aprender sobre esse tema dentro da polícia, do Ministério Público e do Judiciário.

Andie Carolina é graduada em Publicidade e Propaganda. E, apaixonada por música, séries, televisão e cinema. Instagram: @AndieCarolinaP