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Filha de Samara Felippo é vítima de racismo em colégio de alto padrão na capital paulista

Andie Carolina

Na última terça-feira (30/04), a atriz Samara Felippo foi até a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro de São Paulo, para registrar um boletim de ocorrência. O motivo foi o caso de racismo contra sua filha mais velha, de 14 anos, dentro da escola de alto padrão Vera Cruz, na Zona Oeste da capital paulista.

Segundo relato dado pela artista, inicialmente num grupo de pais de WhatsApp e que posteriormente foi confirmado pela escola, o caso ocorreu na semana anterior, no dia 22/04. Samara teve um relacionamento com o ex-jogador de basquete Leandrinho com o qual teve duas filhas. A mais velha das meninas teve seu caderno furtado por duas alunas do 9° ano que arrancaram várias folhas e devolveram ao achados e perdidos da escola. Ao olhar o caderno da filha, Samara verificou que as duas agressoras também escreveram uma ofensa de cunho racial numa das páginas.

Após a repercussão do caso, tanto na mídia quanto nas redes sociais, as duas alunas responsáveis pelo ataque racista foram temporariamente suspensas da escola. Contudo, Samara não considerou a atitude da escola o suficiente e pediu pela expulsão das alunas para que elas não convivam mais no mesmo espaço que sua filha.

Dados alarmantes

É fácil tomar o ocorrido como um evento isolado, porém a própria Samara afirma que esse não foi o primeiro episódio de racismo que sua filha sofreu na escola Vera Cruz. E mais do que isso, esse é um acontecimento recorrente em escolas por todo país.

Uma reportagem veiculada no SBT sobre racismo no ambiente escolar trouxe alguns dados levantados pelo IPEC, Instituto Peregum e o Projeto SETA:

  • 64% dos brasileiros entre 16 e 24 anos apontam como o ambiente escolar o lugar em que mais sofrem racismo;
  • Entre os que afirmam enxergar a raça como o principal motivador para atos de violência nas escolas, a maioria (63%) são de mulheres negras;
  • Pessoas pretas compõem o grupo que mais sofreu violência física (29%) em espaços de educação básica.

Esses dados revelam uma faceta do Brasil que muitos brasileiros fingem que não existe. Por ser um país altamente miscigenado, ainda acredita-se que o racismo já é um problema superado. Quando não se evita discutir o tópico, tenta-se minimizá-lo para que nenhuma atitude firme seja de fato tomada.

 “Afastamento temporário”

Falando especificamente sobre a filha de Samara e Leandrinho, o colégio Vera Cruz é uma das instituições de ensino mais tradicionais de São Paulo frequentado por crianças de famílias com excelentes condições financeiras, já que suas mensalidades podem passar de R$5 mil. Além disso, a escola se orgulha por ter uma intensa educação antirracista. Porém, quando uma de suas alunas negras tem um objeto pessoal furtado, depredado e marcado com uma frase racista, a posição da instituição é apenas afastar temporariamente as agressoras.

Apesar de que “imediatamente foram realizadas ações de acolhimento ao aluno agredido e sua família”, como diz a nota emitida pela escola, eventualmente a vítima será obrigada a conviver no mesmo espaço que suas agressoras. A mensagem que essa atitude transmite é que demonstrações de intolerância serão toleradas.

O Retrato da Impunidade

O caso da filha de Samara Felippo vai além de um caso comum de bullying nas escolas, que por si só já é um problema sério. Não foi uma piada de mau-gosto, não foi uma mera desavença entre alunas, foi uma descarada e grave atitude racista dentro de uma instituição que diz combater tais comportamentos.

Com apenas 14 anos, a vítima já teve que aprender uma dura lição da realidade do seu país. Mesmo tendo uma boa condição de vida, filha de pais famosos e influentes, estando num ambiente supostamente seguro, ela foi vítima da mesma violência que outras meninas e mulheres, mais velhas do que ela e menos privilegiadas socialmente, sofrem todos os dias. Isso mostra que todos nós estamos vulneráveis ao preconceito que se apresenta em cada camada da sociedade.

Mas talvez o pior sentimento que fica é que, talvez, nada será feito. A repercussão pode até levar a uma medida maior por parte do Vera Cruz, porém, dentro de alguns dias essa pode ser apenas mais uma página virada no livro do racismo ignorado do Brasil. As garotas voltarão às aulas normalmente e a filha de Samara terá que fingir que está tudo normal em compartilhar o mesmo ambiente que suas agressoras, como acontece em centenas de outras escolas pelo país.