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Jogo que ‘Simulada Escravidão’, é retirado do Play Store pela Google

Em pleno século XXI, jogo permitia castigar e torturar pessoas negras

Philipe Campos

Por mais de trezentos anos de tortura e privação de liberdade o povo negro vindo da África sofreu. Mais de 4 milhões de negros, vindos pelo Cais do Valongo no Rio de Janeiro eram vendidos como mercadoria. Por mais que a luta contra atos de escravidão ou racismo tenham ganhado força neste século, alguns ainda insistem em propagar o racismo. Dessa vez a proposta foi de um jogo em que o usuário simulava ser o proprietário de escravos.

Em meio às discussões sobre racismo, o Google mantinha deste a última segunda-feira (22) em sua loja de aplicativo um jogo chamado ‘Simulador de Escravidão’. O game simula pessoas negras que podem ser castigadas ao longo das partidas. O aplicativo saiu do ar na última tarde de quarta-feira (24).

Na dinâmica, é possível escolher duas modalidades: tirana ou libertadora. Na primeira, a proposta do jogo é fazer lucro e impedir fugas e rebeliões. Na segunda, lutar pela liberdade e chegar à abolição.

Entre as opções da dinâmica do jogo estão agredir e torturar o ‘escravo’. O game foi produzido pela Magnus Games e tinha pouco mais de mil downloads além de 70 avaliações. Nos comentários, algumas pessoas reclamavam de poucas possibilidades de agressão.

Surreal

O jogo estava disponível desde o início da semana e a dinâmica passou a viralizar nas redes nesta quarta. Após a repercussão, o deputado Orlando Silva disse que entraria com uma representação no Ministério Público por crime de racismo. “Entraremos com representação no Ministério Público por crime de RACISMO e levaremos o caso até às últimas consequências, de preferência a prisão dos responsáveis. A própria existência de algo tão bizarro à disposição nas plataformas mostra a URGÊNCIA de regulação do ambiente digital”, escreveu o deputado no Twitter.

A produtora do game, Magnus, incluiu na plataforma que o “jogo foi criado para fins de entretenimento” e que condena a escravidão no mundo real. O jogo ainda aparece no sistema de aplicativos do Google, mas os usuários não conseguem baixar. Quem já tinha o app no smartphone, consegue continuar jogando.

Entidades e representantes antirracistas repudiam o “simulador de escravidão”. A deputada estadual Verônica Lima diz que é preciso investigação antirracista e ter mais rigor para responsabilizar as empresas de tecnologia como o Google “imaginar que um aplicativo que qualquer pessoa pode baixar, inclusive crianças e adolescentes tem como objetivo torturar pessoas negras e ainda ganha pontos a medida em que você tortura, a medida em que você tira sangue e na medida em que você reproduz uma prática de violência que nós condenamos e que queremos que tenha fim na sociedade brasileira e no mundo inteiro. A gente vê através disso o quanto é importante a gente aprovar a PL da Fake News no Congresso Nacional, essas BigTecs precisam ser responsabilizadas por esse tipo de conteúdo absolutamente bárbaro”, afirmou a deputada.

De acordo com o G1, a Globo entrou em contato com o Ministério Público e com o Google para saber sobre o jogo, mas não teve retorno.

O jogo estava disponível pelo menos desde o dia 22 de maio para aparelhos Android, já está fora do ar.

Fontes: TV Globo / RJ TV 1ª edição